sábado, 26 de setembro de 2009

Vontade Própria

Mais certo do que a meteorologia,
Eu sei que posso odiar,
Com ou sem uma razão para tal.
Se eu pretender, eu vou odiar!
Posso demonstrar o quão odeio
Ou talvez guardá-lo intimamente.
Consigo sentir dentro de mim
A voz que me incentiva a odiar.
Sem que a controle,
A mente procura na sua vastidão imensa,
Várias e dignas razões para odiar.
Quiçá não tão dignas,
Mas razões de qualquer maneira.
Permito-me fazê-lo a todo instante
Sem qualquer tipo de pesar,
Ou até sem que me seja notificado.
Mas mais certo do que odiar,
É a minha aptidão para amar.
Se eu pretender, eu vou amar!
Aí, o meu intelecto acha
Vários fundamentos para amar.
Mas o primordial para saber que amo,
É com certeza, saber que odeio.
Se eu pretender, eu vou odiar! Ou amar!
Eu escolho.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"Autopsicografia"

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente."

Fernando Pessoa


Não como qualquer tipo de artista,
Mas como ser humano, eu finjo!
Finjo um acordar bem-disposto
Onde demonstro o meu optimismo
Para o decorrer do dia,
Como no fim deste,
O meu estado de fadiga,
Será também um fingimento.
Sinto-me totalmente desagradado
Ao receber uma lembrança.
Mas no meu mundo artificial,
Ela era perfeita,
Tal como eu fui perfeito a fingir.
Adoro a minha ocupação
E tudo o que nela faço.
Estarei outra vez a fingir?
Certamente, finjo também
Quando digo que amo
Ou quando digo que odeio.
Sinto a ausência de algo ou alguém
E de imediato sei que são saudades fictícias.
Sinto-me constantemente obrigado a simular
O suposto prazer a se ter numa refeição.
Para não ter que contar, detalhadamente,
As complicações e estados do meu dia,
Crio a ilusão de um dia normal e igual a todos os outros.
Quando actuo como artista,
Finjo adorar fingir.
Finjo qualquer tipo de sentimento, estado ou emoção.
Finjo como uma estratégia de manipulação.
Finjo porque não sei sentir.
E o que finjo, de vós aprendi!